terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Livreto "Em memória de Hilma Freire"

EDILSON SANTANA
e
VALDIR LOUREIRO


EM MEMÓRIA
DE HILMA FREIRE:

determinação para vencer na vida e autossuperação

   * 05-12-1957                 * 28-01-2017




Gráfica Rápida Aldeota


Fortaleza (CE), fevereiro de 2017


FICHA CATALOGRÁFICA

AVISO: este folheto está disponível também no      seguinte endereço, na Internet (Google): homenagemahilmafreire.blogspot.com

Capa: ilustrada com uma figura da Internet, Fonte:http://orkut.google.com/c109540-     tc1ab15736fad926f. htm
Impressão: Gráfica Rápida Aldeota
E-mail: graficarapidaaldeota@hotmail.com
Revisão textual de Valdir Loureiro.
E-mail: valdirlivro@hotmail.com
Orientação de Edilson Santana.
E-mail: edilsonsantanag@hotmail.com

Catalogação para Referência
Bibliográfica em outra obra:
SANTANA, Edilson Gonçalves (Edilson Santana) e SOUSA, Valdir Loureiro de (Valdir Loureiro). Em memória de Maria Hilma Freire: determinação para vencer na vida e autossuperação. Fortaleza/CE: Gráfica Rápida Aldeota, 2017.

Fica permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que seja citada a fonte.

EPÍGRAFE


O lado consolador de uma “doutrina da imortalidade” vê na morte um fato natural, como se denota das palavras de Epicteto:

“As folhas caem, o figo seco substitui o figo fresco, a uva seca, o cacho maduro, eis, para ti, palavras de mau agouro! De fato, aí só existe transformação de estados anteriores em outros; não existe destruição, mas um arranjo e uma disposição bem regulados. A emigração não é senão uma pequena mudança. A morte é uma mudança maior, mas não vai do ser atual ao não-ser, e sim ao não-ser do ser atual. — Então, não serei mais? — Tu não serás mais o que és, mas outra coisa da qual o mundo precisará”.




DEDICATÓRIA


Dedicamos este livreto à Família, Parentes e Amigos da Professora Hilma Freire e do Poeta Biu Pereira.

De modo especial, ao Reverendíssimo Padre que realizou as suas missas de “corpo presente” ou de última homenagem.


Os Autores




AGRADECIMENTO


Agradecemos à Professora Hilma Freire pela motivação espiritual que nos levou a escrever este folheto.

Dessa maneira, ela ainda nos acompanha e nós a acompanhamos em nossa trajetória literária, ensejando projeção como esta, agora junto à sua Comunidade familiar e social.


Os Autores




APRESENTAÇÃO


Levamos este folheto ao Público leitor na expectativa de homenagear a professora e escritora Maria Hilma Freire.
Seu nome literário, para o nosso modo de tratamento, é Hilma Freire — o que lhe confere, segundo a nossa concepção — um “nome de Paz”, tendo formalidade e feição fúnebre.
A motivação de escrever estas páginas — em prosa e verso — nasceu da importância que a Homenageada representa para nós, os autores. Não só o poema, como também “os textos em prosa estão repletos de poesia”, ou seja, são de prosa poética.
Pelo que sabemos, a professora Hilma apreciava a arte poética — talvez, em especial, a originária do Vale do Pajeú, terra natal da sua genitora e onde “as crianças respiram verso”.
Bem: como seguimos a linha espiritualista e temos afinidade com essa dimensão, entendemos que “estamos lhe presenteando as flores em vida”. Uma prova disso é que o nome dela, sua história e suas obras ainda permanecerão em certos registros da nossa atividade, que chamamos “literária”.
A sua biografia é extensa. Precisávamos ocupar um tempo maior que este. Mas informamos que “o acesso ao seu acervo literário” está facilitado na Internet, em diversos Blogs — por meio de locuções-chave de pesquisa, tais como “Lúpus sem martírio, hilma freire “homenagem a hilma freire”. Ainda assim, fizemos um extrato biográfico mais adiante.
Vamos agora nos reportar ao fenômeno consagrado universalmente como sendo “a morte” e que, para nós, representa uma mudança de estado da matéria “química” (dizemos assim, porque essa forma não tem reversão) — mas, principalmente ao fenômeno que não extingue a Vida, que é infinita.
A morte tem sido um dos temas mais recorrentes da Humanidade. Enigmática e rude, prossegue ininterruptamente seu itinerário a despeito de tudo e de todos.
No entanto, é o fenômeno incessante de nascer e renascer, sob o império da Lei da Evolução.
A maioria das pessoas não ensina a olhar a morte de frente, causando martírio e temor. Não quer entender que a Vida e a morte estão sempre juntas, passando pelo mesmo processo, antes, durante e depois da passagem terrena. “Se ensinasse o Homem a morrer, ensiná-lo-ia a viver, diz Montaigne” (1533-1592).
     Com efeito, Epicuro leciona que a morte é um nada. O pior não é a morte. É é dar-se conta — no momento da partida — de que não se viveu. Por tal razão, o filósofo ensinava a seus discípulos a levar em conta o momento presente, o dia atual, como se fosse o último, ou a pensar que cada dia fosse comparado com a vida toda.
Seja como for, a morte é a transição de um estágio no eterno âmbito da Vida, embora tal fenômeno não seja bem compreendido por muitos. Ademais, morrer não é o fim da Existência. Entenda-se isso como apenas a “impermanência das formas”.
três fases na existência humana: nascimento, durabilidade e morte. Na realidade, não são propriamente fases, mas estágios intercalados de um mesmo ato que infinitamente se renova. Ou como declara Alfred Vigny (1797-1863: “Condenados à morte, condenados à vida — eis duas certezas”.
Enfim, a morte é crepuscular, folhas sopradas pelo vento, beleza das árvores, fenômeno da Natureza. Vai-se o objeto, fica o Vazio e o Vazio nunca é vazio. O Vazio tem o nome de saudade e também eternidade. Tudo se eterniza no crepúsculo, pois “Ninguém pode entrar no mesmo rio duas vezes”, dizia Heráclito. Tudo é impermanente, chegada e despedida — um eterno retorno que não cessa de se renovar. Aí, nesse processo, acontece a morte, no eterno tempo presente da Vida.

                            
Os Autores



SUMÁRIO


EXTRATOS BIOGRÁFICOS...................17
1 MARIA HILMA FREIRE........................17
2 EDILSON SANTANA GONÇALVES....18
3 VALDIR LOUREIRO DE SOUSA........ 19

TEXTOS DE EDILSON SANTANA........21
1 Eterna sinfonia, e não a última sonata....................................................21
2 A Morte não cede à compaixão: obedece a um processo de mudança...............................................24
3 Vida após a morte: argumentos e opiniões contra e a favor.....................................27
4 Consolação ao enlutado...................32

POEMA DE VALDIR LOUREIRO............37
1 NOTÍCIA E REAÇÃO............................37
2 LIVROS E AMIZADE............................39
3 DOENÇA E ATIVIDADE.......................41
4 ATRIBUTOS E RELIGIÃO....................43
5 CENÁRIO FINAL..................................45
6 DIA E LOCAL........................................47
7 LIVRO LÚPUS SEM MARTÍRIO...........48
8 ALUSÃO AO POETA BIU PEREIRA....49


EXTRATOS BIOGRÁFICOS


1 MARIA HILMA FREIRE 

Nasceu em Missão Velha (CE), no dia 5 de dezembro de 1957; desencarnou em 28 de janeiro de 2017. É filha de Luiz Freire do Nascimento e Hilda Alves Freire.

Fundadora do Projeto “Receita para Ser Feliz”, em parceria com o Promotor de Justiça e Pedagogo Dr. Edilson Santana Gonçalves — uma iniciativa de cunho cultural e filantrópico. Publicou livros de autores do município de Missão Velha, objetivando a valorização da cultura local e da região, no reconhecimento das riquezas culturais, como o lançamento do livro Antologia Poética, do Poeta Biu Pereira e trabalhos sociais.

2 EDILSON SANTANA GONÇALVES

Graduado em Pedagogia e em Direito, pós-graduado em Direito Processual Civil, Filosofia e Sociologia — matérias que lecionou durante anos. Publicou os seguintes livros: Filosofar é preciso. São Paulo (SP): Editora Golden Books, 2007; Há um mestre adormecido dentro de Você: como despertar o seu potencial interior. São Paulo: DPL Editora, 2001; Os fenômenos da espiritualidade. São Paulo: DPL Editora, 1999. Arte da política mundana: reflexões sociopolíticas e filosóficas. Campinas: Edicamp, 2003. Ministério Público no Estado Democrático de Direito. Curitiba: Editora Juruá, 2000. Não publicado: Martelo da Filosofia. E muitos outros. Ocupa o cargo de Promotor de Justiça nas áreas Cível e dos Direitos da Cidadania.
Publica artigos na imprensa local.
E-mail: edilsonsantanag@hotmail.com

3 VALDIR LOUREIRO DE SOUSA

É controlador de Voo e Militar da Aeronáutica. Trabalhou em vários aeroportos brasileiros.
Bacharel em Administração Pública. Possui cursos na área de pessoal e material. Lecionou “Economia e Mercado, Sociologia e Filosofia” no Ensino Médio. Ensinou Português em curso preparatório para Escolas Militares de Nível Médio.
Participou da revisão de muitos livros — especialmente da autoria do Dr. Edilson Santana — para quem ainda faz correção e revisão textual.
Cabe mencionar honrosamente que foi, por assim dizer, “lançado ao mundo da revisão de texto pela Professora Hilma Freire”.
Foi revisor dos seus livros (dela) publicados em Fortaleza: Educação política e Lúpus sem martírio.
Atualmente faz correção, revisão e copidescagem de livro, monografia e outros textos.
E-mail: valdirlivro@hotmail.com


TEXTOS DE EDILSON SANTANA


1 Eterna sinfonia, e não a última sonata

Eis que é chegado o momento da última sinfonia! 
Não há nada a temer, sequer a hipótese da perca irremediável do eu —, dissolvendo-se a individualidade na fonte cósmica de onde emergiu.
Seria, então, a morte o meio de pôr fim a essa dolorosa separação? Um fenômeno do fluxo da vida em regresso ao lar antigo?
E em sendo assim, por que temer a possibilidade do nada! O “nada” não é algo que se possa temer!
No dizer de Jorge Luís Borges, “A morte é o infinito que se aproxima”.  Ilustrativamente, é a absorção do finito pelo infinito, como minúscula gota de orvalho reintegrada ao mar.
Sendo a vida a encenação de um espetáculo, seria a morte o epílogo da tragédia, indicando a hora de retornar à Origem? E se existem tantas vidas como creem muitas doutrinas, a morte é rito de passagem de oportuna estada em várias dimensões.
Costuma-se dizer que a morte é a “impermanência das formas”. E como toda forma está sujeita à transformação por imperativo de lei natural, torna-se comum transpor o percurso do ventre para o Mundo e do túmulo para o ventre.
Isso faz lembrar os dizeres contidos no epitáfio de um grande estadista: “O corpo de Benjamin Franklin, impressor, como a capa de um livro velho, despojado de seu conteúdo, de suas letras e de sua douradura, aqui jaz, pasto de vermes. A obra, porém, não se perderá porque, como ele acreditava, reaparecerá numa edição nova e mais elegante, revista e corrigida pelo Autor”.
Imagem semelhante é a que descreve a morte do corpo humano com um processo idêntico ao que ocorre quando uma borboleta deixa o casulo. Esse pode ser comparado ao Homem, mas não é idêntico ao seu eu real, porquanto é somente morada transitória. Tão logo o corpo físico esteja absolutamente debilitado, libertará a borboleta — a alma, para melhor dizer. Isso não significa ter chegado ao fim da existência, mas somente que o casulo deixou de funcionar.
Não se pode negar que existe muito fator ou fenômeno que o ser humano não pode compreender, mas nem por isso deixa de existir. Respeitáveis são os ensinamentos dados pela Ciência, pela Filosofia e pela Religião, porém todos ainda limitados.
Diante disso, o que mais importa é o amor que se pode dar no leito do moribundo. Sentar-se à beira da cama e compartilhar por inteiro o instante da despedida.
A morte não é somente tristeza, como muitos pensam e propagam. Ao revés, pode significar oportunidade imensa de amor e sabedoria. Pode ser que seja apenas uma sonata, mas pode tornar-se uma eterna sinfonia!

2 A Morte não cede à compaixão: obedece a um processo de mudança

            A morte não cede à compaixão, não se explica, não espera pelo epitáfio (não é mais que uma inscrição no túmulo). Sua chegada é apenas questão de tempo. Daí a conclusão de Fernando Pessoa, dizendo que “o ser humano é somente um cadáver adiado!”
            Em verdade, a morte é um processo contínuo — segundo a observação de Sêneca: “a hora final, quando cessamos de existir, não nos traz a morte; ela simplesmente completa o processo de morrer. Nós alcançamos a morte naquele momento, mas já estávamos há muito tempo no caminho”.
            Todo ser vivo morre. O Homem sabe disso, mas, inexplicavelmente, vive como se não fosse morrer.
Há muitas versões interpretativas do ato de morrer. Uma delas deduz que a imortalidade seria tediosa, terrivelmente insuportável.
            Seja como for, a morte provoca tristeza e desolação.
Morrer é o temor do desconhecido! O esforço das religiões para explicá-la deixa no Homem um grande vácuo, uma grande interrogação, grande vazio.
Sendo inevitável o ato de perecer e a decomposição dos corpos, a melhor hermenêutica está na tese do filósofo Epicuro, que, já no século III a.C., defendia a inexistência de relação entre o homem e a morte. Dizia não temê-la porque nunca iria encontrá-la, pois “Enquanto sou, a morte não é; e desde que ela seja, não sou mais”.
Consolo infantil, evidência recusada, não há escapatória. A única certeza que o homem pode ter é que, um dia, a qualquer hora, vai falecer. Confortadora, porém, é a seguinte lição Eckartn Tolle (com grifo nosso):
“Quando você anda numa floresta intocada, onde não houve qualquer interferência humana, vê muito verde, muita planta brotando, mas também encontra árvores caídas, troncos se deteriorando, folhas podres e, a cada passo, matéria em decomposição. Para onde quer que olhe, vai encontrar vida e morte.
“Se prestar mais atenção, vai descobrir que o tronco de árvore em decomposição e as folhas apodrecendo não só dão origem a nova vida como estão cheios de vida. Há micro-organismos em ação. As moléculas estão se reorganizando. Portanto, não há morte em parte alguma dessa floresta. Há apenas a transformação da vida. O que pode aprender com isso?
“Aprende que a morte não é o contrário da vida. A vida não tem oposto. O oposto da morte é o nascimento. A vida é eterna”.

3 Vida após a morte: argumentos e opiniões contra e a favor

A crença em uma vida depois da morte sempre foi o centro das discussões teológicas. Mas será que isso faz sentido? Seria a morte algo a que se poderia sobreviver? Há controvérsias.
            Um dos argumentos filosóficos que sustentam a ideia de imortalidade da alma é este: os ímpios não são castigados e os virtuosos não são recompensados nesta vida. Logo, é razoável que exista outra vida onde possam ser julgados de conformidade com os próprios méritos e deméritos.
            O entendimento mais comum de pensar a vida pós-morte é o que afirma existir um “ser imortal” que sobrevive à decomposição do corpo, cuja crença foi defendida por Platão  filósofo da antiga Grécia.
Em seu livro Fédon, escrito em forma de diálogo, ele comenta fatos que antecederam a morte de Sócrates, condenado a beber veneno por contrariar interesse das classes dominantes. Alguns amigos acercaram-se do mestre no interior da prisão e constataram que ele seria executado naquele mesmo dia. No entanto, Sócrates não apresentava qualquer constrangimento com a notícia, dizendo não estar com medo, pois, embora seu corpo esteja prestes a perecer, sua alma sobreviverá. Isso ficou explicitado na conversa que manteve com o amigo Cebes: “Sócrates — Considerando que o que não pode morrer não pode ser destruído, não seria o caso de a alma, sendo imortal, também ser necessariamente imperecível? Cebes: Com certeza. Sócrates: Então, quando a morte ataca um homem, morre parte dele, mas a parte imortal escapa e é preservada sã e salva? Cebes: É verdade. Sócrates: Portanto, Cebes, acima de qualquer dúvida, a alma é imortal e imperecível, e nossas almas realmente hão de existir em outro mundo!”.
Depois disso, Sócrates ainda se vê obrigado a repreender os amigos, quando eles perguntam como desejaria ser sepultado, dizendo-lhes que ele não seria sepultado. Sua alma estaria em outro lugar, e que importância faz o que farão com seu corpo, que será deixado para trás?
Destarte, Sócrates defendia a coexistência de um corpo mortal e uma alma imortal, com um morrendo e o outro sobrevivendo eternamente.
Contestando tal concepção, as tradições judaicas entendiam inexistir vida além-morte, embora acreditando na ressurreição dos mortos no fim dos tempos. Essa crença constitui um dos “Treze princípios da fé” — uma espécie de síntese das doutrinas fundamentais do Judaísmo, escrito pelo filósofo judeu Maimônides.
O Cristianismo herdou essa doutrina, difundindo a tese de que a ressurreição dos mortos era um dos sinais do fim do mundo. Muitos cristãos, porém, declararam-se adeptos do platonismo. Não obstante, por volta dos séculos IV e V, na época de Agostinho, o entendimento platônico da sobrevivência da alma tornou-se praticamente universal, ao lado da crença tradicional na ressurreição do corpo.
A rigor, isso veio a constituir uma doutrina mais complexa, a saber: na morte, o corpo e a alma separam-se; o corpo desintegra-se e a alma continua a viver, de acordo com o modelo de Platão. Mas o espírito ingressa em uma espécie de dormência até que, no fim dos tempos, o corpo é ressuscitado e reintegrado à alma.
Em outro extremo, no século XVI, Martinho Lutero defendeu que a existência da alma imortal era antibíblica e essencialmente pagã. Acreditava apenas na ressurreição do corpo, concebendo a imortalidade da alma como monstruosa doutrina da fé católica.
Não se tem a pretensão, neste pequeno espaço, de esgotar o assunto nem se insurgir contra este ou aquele entendimento. Apenas concluir, recorrendo à Metafísica, que a abordagem mais adequada seria apelar à onipotência divina. Se Deus é onipotente, pode fazer tudo, inclusive proceder diferentemente do quanto possa imaginar a limitada capacidade humana. 

4 Consolação ao enlutado

            Poucos entendem que se morre diariamente. Pensam que a morte é coisa do futuro, porém parte dela é coisa do passado.
O tempo passado pertence à morte. O que se vive não passa de um instante com aparente duração. A morte persegue o ser vivente, a vida foge.
Por isso, o valor da vida não está na sua duração, mas no uso que se faz dela.
A Vida não guarda distância da Morte, uma vez que essa se encontra em todos os lugares. O tempo que separa um homem de outro não é o mais importante.
A morte está presente em todos (sem esquecer ninguém).
            Portanto, ao perder-se um ente querido, deve-se manter discrição e silêncio.
Os olhos não devem ficar nem secos nem inundados. Chorar copiosamente com lamentações e prantos tresloucados pode constituir uma forma insana de exibicionismo, e a maior forma de hipocrisia e exibição na dor. Nessas horas, é preciso amenizar a rigidez, exercitando a arte da tolerância, aceitando com resignação a desventura.
A dor também tem o seu recolhimento, que deve ser preservado. Em tudo, há uma justa medida. Somente nos medíocres, dores e gozos são escandalosos. De nada adianta lamentar-se de algo que está, desde as mais remotas origens, reservado a todos, tal como Sêneca dizia:
“Aquele que lamenta a morte de alguém lamenta ter nascido. Uma mesma lei rege a todos nós. Quem nasceu deve um dia morrer. Os tempos podem ser diferentes, mas o fim é o mesmo. (...) Nada é mais certo do que a morte. Apesar de tudo, todos se queixam de um acontecimento para o qual sempre foram avisados”.  
            É insensatez ter medo da morte. Herói é o homem que aprende a morrer com dignidade, serenidade, prudência e coragem.
Ademais, não há novidade na morte. Trata-se de uma viagem que leva aonde tudo vai.
Ao nascer, já existe a certeza da morte. Isso já aconteceu com todos os antepassados e os que vierem, depois irão. Uma sequência interminável e irrevogável envolve e leva todos, sem distinção.
            Toda vida é breve. Isso vale para mendigos, escravos e miseráveis, tanto quanto para todos os grandes e requintados poderosos que se colocam acima da multidão, pois esse tipo de felicidade não passa de enganos, de uma máscara usada em público. Se a mesma for retirada, causarão piedade. 
            Com efeito, todos os bens dos mortais são igualmente mortais. O verdadeiro patrimônio encontra-se nas virtudes — única coisa imortal que pertence aos mortais. Os outros bens de que alguém se julga proprietário, não lhe pertencem, pois nada é absolutamente eterno e invencível neste mundo.
            Cabe lembrar que muitos dos que são amados em vida, embora sejam retirados, continuam vivos na lembrança e nos corações, de modo que se pode afirmar que esse tempo que passou perdura para sempre.
            A Morte está sempre vigilante, contudo é comum pensar que ela existe somente em relação ao outro. Daí vem a surpresa e o desespero, mas a vida mortal é apenas um prelúdio de uma nova existência, como ensinam os profetas. Por isso, é recomendável, quando chegar a hora, abandonar serenamente a pele, a carne, o sangue e os ossos.
            Finalmente, nada é mais desconfortável que a perda daqueles que se ama; no entanto, insurgir-se contra isso é tão insensato quanto chorar pela queda das folhas das árvores. Hoje um, amanhã outro — tal é a Lei!  


POEMA DE VALDIR LOUREIRO

1 NOTÍCIA E REAÇÃO

1) Surpresa
Hoje* eu fui surpreendido
por um aviso imprevisto
que causou espanto misto
assim que foi recebido:
fiquei pasmo e entristecido
só de pensar na imagem!
O Amigo disse a mensagem:
“Em hora padecedora,
a Professora, a Escritora
fez sua eterna viagem!”. 
* 28 de janeiro de 2017.

2) Reação
Senti o impacto: o entalo
com a voz, querendo faltar.
Precisei me controlar
para conter esse abalo.
Foi um efeito de estalo
que eu não sei bem definir.
Só água, pude engolir.
Não sei se era fadiga,
sentindo a perda da Amiga,
“que acabara de partir!”.

3) Sugestão
Com respeito e luto meu,
sugeri ao Digno Amigo
que escrevesse algum artigo
como era hábito seu:
falando em quem faleceu,
consolava os enlutados;
aos “olhos enlagrimados”,
sua homenagem servia
como oração que alivia
a dor dos inconformados.

4) Minuto de silêncio
Depois olhei o Infinito
com a Natureza eterna,
que, no seu reino, governa
quem parte e quem fica aflito.
“Meu olhar foi um bendito
que eu fiz pela alma dela.
E a luz do Sol foi a vela
acesa na minha mão”,
no minuto de atenção
e silêncio para ela.

5) Compadecimento
Eu estava viajando
no momento do aviso.
Sem acalmar o juízo,
continuei, caminhando...
na estrada, fui pensando
na “família enlutada”:
muita gente inconformada
que junto “a Hilma” estivesse
e quem mais se compadece
de uma alma transmutada.

2 LIVROS E AMIZADE

6) Livros
Hilma Freire, a Professora,
tem um texto que eu guardei:
memória que cultivei
do seu tempo de Escritora.
De dois livros, é autora:
dos que foram publicados,
afora mais uns deixados,
nas dependências de um lar —,
que alguém pode cultivar
como tributos legados.

7) Amizade
Tem* um livro que nos fez
“amigos de coração”,
e não só da ocasião:
sempre os mesmos, toda vez!
Amizade e honradez
pautavam nosso contato.
Eu sempre lhe serei grato
por ela ter-me lançado
como o “artista” a que sou dado:
“revisor de texto”, nato. 
* Ela tem: Educação política.

8) Tríade
Um Digníssimo Sujeito,
Ela me apresentou,
o qual também se tornou
meu bom “amigo do peito”.
O trio estava perfeito:
Doutor Edilson Santana,
Hilma Freire, muito humana,
e Valdir Loureiro (eu),
querendo ser deles (seu)
revisor que não se engana.

3 DOENÇA E ATIVIDADE

9) Enfermidade
Hilma andava adoentada
— embora aparentemente —,
por ser forte, resistente,
não se queixasse de nada.
Era firme, entusiasmada.
E com a sua fé ou crença,
lutava contra a doença.
Não se entregava ao cansaço,
não demonstrava embaraço
nem se apresentava tensa.

10) Atividade
Os anos foram passando.
A atividade aumentou
e o Trio realizou
o que vinha planejando.
Sempre nos comunicando,
não faltava um bom pretexto:
fora a revisão de texto,
de seis temas escolhidos,
todos eram debatidos —
era do primeiro ao sexto.

11) Política
Hilma foi escritora crítica.
É senso que se desdobra
na sua primeira obra,
a “Educação Política”:
fala de forma analítica
sobre governo e poder
que vivem para querer
benesse e prerrogativa —
“sem ter iniciativa
que o lixeiro possa ver”.

4 ATRIBUTOS E RELIGIÃO

     12) Religião
A Professora Hilma era
uma cristã fervorosa —
tão fiel religiosa
que outra, seu pai não fizera?
Na certa, sua mãe quisera!
Mas quem sabe? Sua tendência
de orar com veemência
não dependeu só dos pais:
foi de dons celestiais
e divinal Providência?

              13) Ressurreição
Sua fé inabalável
talvez a tenha levado
para um “jardim encantado”
em que tudo seja amável!
Seu amor interminável
a Deus, como Sua serva,
todo Santo vê, preserva.
“Se é no Céu como no pó”,
seu corpo aqui não está só,
enquanto Lá se conserva.

14) Universo unificado
Vou ficando aqui, na terra,
sem a Professora Hilma —
com “a Mão Natural* que filma
o cortejo que se encerra”.
Depois que o corpo se enterra,
espera a “calma final”
de um mundo espiritual
onde todos se acharão
em busca da salvação
e do Abraço Universal. 
* Mão da Natureza.

15) Transdimensão
Hilma era espiritualista.
Pelo que eu pude entender,
“ela não ia morrer;
mudava sua forma vista".
O “Céu” é uma conquista;
é dimensão ou estado
para o “bem-aventurado”.
E sua espiritualidade
com amor à vida e humildade
era de nível elevado.

16) Imortalidade
Eu não vou dizer “Adeus”
a “quem foi, mas não sumiu:
enquanto desceu, subiu
e está com os entes seus”.
Hilma acreditava em Deus
como na imortalidade.
Deixou eterna saudade;
por isso, não fica ausente;
ela está viva ou presente
na nossa mentalidade.

5 CENÁRIO FINAL

17) Igreja
O momento é funerário.
Muito longe do jazigo,
mas, com o título de “amigo”,
sou amigo e solidário.
“Estou vendo” o campanário
onde dobram corda e sinos.
“Ouço” a cantiga dos hinos
na voz do público presente.
“Imagino” quem frequente
esses rituais divinos.

18) Remédio
Mas, como estão os parentes
de tão prezada Senhora?
O que estão tomando agora
para as dores inclementes?
“Das mentes, façam correntes
que ligam seus corações!”.
São essas “medicações”
que se vão associar
ao remédio que curar
tais dores ou aflições.

19) Arquivo vivo
Seu acervo literário
(provavelmente incompleto)
estará sob algum teto
de um ser humano gregário.
Seja trancado em armário
ou em outro local seguro.
Pode ser que, no futuro,
alguém tenha pretensão
de sua publicação
“para tirá-lo do escuro”.

6 DIA E LOCAL

 20) Dia 28 de Janeiro
Vinte e oito de janeiro.
Foi essa data marcada
por sua vida mudada
com o suspiro derradeiro.
Abalou o Bairro inteiro
o triste acontecimento.
Ocorreu o desligamento
dessa ilustre cearense,
— da terra missão-velhense —
lugar do seu nascimento.

21) Missão Velha
“Missão Velha entristeceu-se”
com a notícia desse caso;
antecipou seu Ocaso
e mais cedo, escureceu-se.
A Cidade recolheu-se
ao luto da despedida:
foi “sua filha querida
residir em outro abrigo,
levando junto consigo
a certeza de Outra Vida”!.

7 LIVRO LÚPUS SEM MARTÍRIO

22) Mensagem
Dessa obra, eu sei falar
com muita leitura minha,
“como quem sabe a andorinha,
onde mora ou quer morar”*.
Foi de me fazer chorar
o seu “martírio sem dor”;
mas percebi o valor:
seu segredo principal
é a vida espiritual,
incluindo a fé e o amor. 
* Conhecer o segredo da mensagem.

23) Exemplo de superação
Não lhe faltava um alento.
E a ilustre Professora,
além de ser sonhadora,
superava o sofrimento.
O seu desenvolvimento,
sua história detalhada,
foi nesse livro contada.
E com determinação,
a vida em evolução,
nunca se deu por cansada.

24) Epígrafe da obra
Doente de Lúpus precisa seguir/
o exemplo de quem se renova na Fé:/
pergunta ao seu médico “o remédio, qual é";/
acredita em Deus, para não se afligir./
Ao lado de amigos, irá conseguir/
vencer preconceito e suportar a dor./
Em vez de ser mais um “pobre sofredor”,/
faz, do seu martírio, motivo de ser/
mais forte que a dor — para sempre viver/
“feliz na doença” — com luz e amor!

8 ALUSÃO AO POETA BIU PEREIRA

        25) Promoventes do Poeta
A Poesia tem um cheiro.
E para que o povo cheire,
a Professora Hilma Freire
promoveu o Violeiro
da “Baixa do Tinguizeiro”
com a sua lavra decana.
E da área suburbana
para o campo literário,
foi com o amigo solidário,
Doutor Edilson Santana.

26) Sua Antologia
“Antologia Poética
do poeta Biu Pereira”
é um livro de cabeceira,
para quem gosta da estética:
da beleza magnética
imantada na poesia.
Biu Pereira — eu queria
tê-lo visto pessoalmente;
mas o vejo no expoente
dessa rica Antologia.

27) Organizadores da Antologia
Sem a vaidade ufana,
foi um livro organizado
e, com honras, publicado
por Hilma e por Santana.
Tem conteúdo que abana
o fogo da alegria
presente em sua poesia —
ainda que ele fumasse
pra que o cigarro apagasse
a tristeza que sentia.

28) Solidariedade
Custa muito suportar
Lúpus, tristeza e agonia,
mas estou em sintonia
com essas “notas de pesar”.
Quando um parente chorar,
ouço um “canto de tristeza” —
contraste da Natureza
que a família compartilha,
como a de Hilma, que fervilha*
entre o Luto e Vela Acesa. 
* "fervilha" no sentido de estar inquieta.

Valdir Loureiro
Revisor de texto
e Colecionador de livros.