EDILSON SANTANA
e
VALDIR LOUREIRO
EM MEMÓRIA
DE HILMA FREIRE:
determinação para vencer na vida e
autossuperação
*
05-12-1957 * 28-01-2017
Gráfica Rápida Aldeota
Fortaleza (CE), fevereiro de 2017
FICHA
CATALOGRÁFICA
AVISO: este folheto está disponível
também no seguinte endereço, na
Internet (Google): homenagemahilmafreire.blogspot.com
Capa:
ilustrada com uma figura da Internet, Fonte:http://orkut.google.com/c109540- tc1ab15736fad926f. htm
Impressão:
Gráfica Rápida Aldeota
E-mail:
graficarapidaaldeota@hotmail.com
Revisão
textual de Valdir Loureiro.
E-mail: valdirlivro@hotmail.com
Orientação
de Edilson Santana.
E-mail: edilsonsantanag@hotmail.com
Catalogação
para Referência
Bibliográfica em outra obra:
SANTANA, Edilson Gonçalves (Edilson
Santana) e SOUSA, Valdir Loureiro de (Valdir Loureiro). Em memória de Maria Hilma Freire: determinação para vencer na vida
e autossuperação. Fortaleza/CE: Gráfica Rápida Aldeota, 2017.
Fica permitida a reprodução total ou
parcial desta obra, desde que seja citada a fonte.
EPÍGRAFE
O
lado consolador de uma “doutrina da imortalidade” vê na morte um fato natural,
como se denota das palavras de Epicteto:
“As
folhas caem, o figo seco substitui o figo fresco, a uva seca, o cacho maduro,
eis, para ti, palavras de mau agouro! De fato, aí só existe transformação de
estados anteriores em outros; não existe destruição, mas um arranjo e uma
disposição bem regulados. A emigração não é senão uma pequena mudança. A morte
é uma mudança maior, mas não vai do ser atual ao não-ser, e sim ao não-ser do
ser atual. — Então, não serei mais? — Tu não serás mais o que és, mas outra
coisa da qual o mundo precisará”.
DEDICATÓRIA
Dedicamos este livreto à Família,
Parentes e Amigos da Professora Hilma Freire e do Poeta Biu Pereira.
De modo especial, ao Reverendíssimo
Padre que realizou as suas missas de “corpo presente” ou de última homenagem.
Os Autores
AGRADECIMENTO
Agradecemos à Professora Hilma Freire
pela motivação espiritual que nos levou a escrever este folheto.
Dessa maneira, ela ainda nos acompanha
e nós a acompanhamos em nossa trajetória literária, ensejando projeção como
esta, agora junto à sua Comunidade familiar e social.
Os Autores
APRESENTAÇÃO
Levamos
este folheto ao Público leitor na expectativa de homenagear a professora e
escritora Maria Hilma Freire.
Seu
nome literário, para o nosso modo de tratamento, é Hilma Freire — o que lhe
confere, segundo a nossa concepção — um “nome de Paz”, tendo formalidade e feição fúnebre.
A
motivação de escrever estas páginas — em prosa e verso — nasceu da importância
que a Homenageada representa para nós, os autores. Não só o poema, como também “os
textos em prosa estão repletos de poesia”, ou seja, são de prosa poética.
Pelo
que sabemos, a professora Hilma apreciava a arte poética — talvez, em especial,
a originária do Vale do Pajeú, terra natal da
sua genitora e onde “as crianças respiram verso”.
Bem:
como seguimos a linha espiritualista e temos afinidade com essa dimensão,
entendemos que “estamos lhe presenteando as flores em vida”. Uma prova disso é
que o nome dela, sua história e suas obras ainda permanecerão em certos
registros da nossa atividade, que chamamos “literária”.
A
sua biografia é extensa. Precisávamos ocupar um tempo maior que este. Mas informamos
que “o acesso ao seu acervo literário” está facilitado na Internet, em diversos
Blogs — por meio de locuções-chave de pesquisa, tais como “Lúpus sem martírio, hilma freire “homenagem a hilma freire”. Ainda
assim, fizemos um extrato biográfico mais adiante.
Vamos
agora nos reportar ao fenômeno consagrado universalmente como sendo “a morte” e
que, para nós, representa uma mudança de estado da matéria “química” (dizemos
assim, porque essa forma não tem reversão) — mas, principalmente ao fenômeno
que não extingue a Vida, que é infinita.
A morte tem sido um dos temas mais
recorrentes da Humanidade. Enigmática e rude, prossegue ininterruptamente seu
itinerário a despeito de tudo e de todos.
No entanto, é o fenômeno incessante de
nascer e renascer, sob o império da Lei da
Evolução.
A maioria das pessoas não ensina a
olhar a morte de frente, causando martírio e temor. Não quer entender que a Vida
e a morte estão sempre juntas, passando pelo mesmo processo, antes, durante e
depois da passagem terrena. “Se ensinasse o Homem a morrer, ensiná-lo-ia a viver, diz Montaigne” (1533-1592).
Com efeito, Epicuro leciona que a morte é um nada. O pior não é a morte. É é dar-se conta — no momento da partida — de que não se viveu. Por tal razão, o filósofo ensinava a seus discípulos a levar em conta o momento presente, o dia atual, como se fosse o último, ou a pensar que cada dia fosse comparado com a vida toda.
Com efeito, Epicuro leciona que a morte é um nada. O pior não é a morte. É é dar-se conta — no momento da partida — de que não se viveu. Por tal razão, o filósofo ensinava a seus discípulos a levar em conta o momento presente, o dia atual, como se fosse o último, ou a pensar que cada dia fosse comparado com a vida toda.
Seja como for, a morte é a transição de
um estágio no eterno âmbito da Vida, embora tal fenômeno não seja bem
compreendido por muitos. Ademais, morrer não é o fim da Existência. Entenda-se
isso como apenas a “impermanência das formas”.
Há três fases na existência humana:
nascimento, durabilidade e morte. Na realidade, não são propriamente fases, mas
estágios intercalados de um mesmo ato que infinitamente se renova. Ou como
declara Alfred Vigny (1797-1863: “Condenados à morte, condenados à vida — eis
duas certezas”.
Enfim, a morte é crepuscular, folhas
sopradas pelo vento, beleza das árvores, fenômeno da Natureza. Vai-se o objeto,
fica o Vazio e o Vazio nunca é vazio. O Vazio tem o nome de saudade e também
eternidade. Tudo se eterniza no crepúsculo, pois “Ninguém pode entrar no mesmo rio
duas vezes”, dizia Heráclito. Tudo é impermanente, chegada e despedida — um
eterno retorno que não cessa de se renovar.
Aí, nesse processo, acontece a morte, no eterno tempo presente da Vida.
Os Autores
SUMÁRIO
EXTRATOS
BIOGRÁFICOS...................17
1
MARIA HILMA FREIRE........................17
2
EDILSON SANTANA GONÇALVES....18
3
VALDIR LOUREIRO DE SOUSA........ 19
TEXTOS DE EDILSON SANTANA........21
1 Eterna sinfonia, e não a última
sonata....................................................21
2 A Morte não cede à compaixão:
obedece a um processo de mudança...............................................24
3 Vida após a morte: argumentos e
opiniões contra e a favor.....................................27
4 Consolação ao
enlutado...................32
POEMA
DE VALDIR LOUREIRO............37
1 NOTÍCIA E REAÇÃO............................37
2 LIVROS E AMIZADE............................39
3 DOENÇA E ATIVIDADE.......................41
4 ATRIBUTOS E RELIGIÃO....................43
5 CENÁRIO FINAL..................................45
6 DIA E LOCAL........................................47
7 LIVRO LÚPUS SEM MARTÍRIO...........48
8 ALUSÃO AO POETA BIU PEREIRA....49
EXTRATOS BIOGRÁFICOS
1
MARIA HILMA FREIRE
Nasceu
em Missão Velha (CE), no dia 5 de dezembro de 1957; desencarnou em 28 de
janeiro de 2017. É filha de Luiz Freire do Nascimento e Hilda Alves Freire.
Fundadora
do Projeto “Receita para Ser Feliz”, em parceria com o Promotor de Justiça e
Pedagogo Dr. Edilson Santana Gonçalves — uma iniciativa de cunho cultural e
filantrópico. Publicou livros de autores do município de Missão Velha,
objetivando a valorização da cultura local e da região, no reconhecimento das
riquezas culturais, como o lançamento do livro Antologia Poética, do Poeta Biu
Pereira e trabalhos sociais.
2
EDILSON SANTANA GONÇALVES
Graduado em Pedagogia e em Direito, pós-graduado em Direito Processual Civil ,
Filosofia e Sociologia — matérias que lecionou durante anos. Publicou os
seguintes livros: Filosofar é preciso. São
Paulo (SP): Editora Golden Books, 2007; Há um mestre adormecido dentro de Você: como despertar o seu potencial
interior. São Paulo: DPL Editora, 2001; Os fenômenos da espiritualidade. São Paulo: DPL Editora, 1999. Arte da política mundana: reflexões
sociopolíticas e filosóficas. Campinas: Edicamp, 2003. Ministério Público no Estado Democrático de Direito. Curitiba:
Editora Juruá, 2000. Não publicado: Martelo
da Filosofia. E
muitos outros. Ocupa o cargo de Promotor de Justiça nas áreas Cível e dos Direitos
da Cidadania.
Publica artigos na imprensa local.
E-mail: edilsonsantanag@hotmail.com
3 VALDIR LOUREIRO DE
SOUSA
É
controlador de Voo e Militar da Aeronáutica. Trabalhou em vários aeroportos
brasileiros.
Bacharel em
Administração Pública. Possui cursos na área de pessoal e material.
Lecionou “Economia e Mercado, Sociologia e Filosofia” no Ensino Médio. Ensinou
Português em curso preparatório para Escolas Militares de Nível Médio.
Participou
da revisão de muitos livros — especialmente da autoria do Dr. Edilson Santana —
para quem ainda faz correção e revisão textual.
Cabe
mencionar honrosamente que foi, por assim dizer, “lançado ao mundo da revisão
de texto pela Professora Hilma Freire”.
Foi
revisor dos seus livros (dela) publicados em Fortaleza: Educação política e Lúpus sem martírio.
Atualmente
faz correção, revisão e copidescagem de livro, monografia e outros textos.
E-mail: valdirlivro@hotmail.com
TEXTOS DE EDILSON SANTANA
1 Eterna sinfonia, e não a última
sonata
Eis que é chegado o
momento da última sinfonia!
Não há nada a temer,
sequer a hipótese da perca irremediável do eu —, dissolvendo-se a individualidade na fonte cósmica de onde emergiu.
Seria, então, a morte o
meio de pôr fim a essa dolorosa separação? Um fenômeno do fluxo da vida em
regresso ao lar antigo?
E em sendo assim, por
que temer a possibilidade do nada! O “nada” não é algo que se possa temer!
No dizer de Jorge Luís
Borges, “A morte é o infinito que se aproxima”. Ilustrativamente, é a
absorção do finito pelo infinito, como minúscula gota de orvalho reintegrada ao
mar.
Sendo a vida a encenação
de um espetáculo, seria a morte o epílogo da tragédia, indicando a hora de
retornar à Origem? E se existem tantas vidas como creem muitas doutrinas, a
morte é rito de passagem de oportuna estada em várias dimensões.
Costuma-se dizer que a
morte é a “impermanência das formas”. E como toda forma está sujeita à
transformação por imperativo de lei natural, torna-se comum transpor o percurso
do ventre para o Mundo e do túmulo para o ventre.
Isso faz lembrar os
dizeres contidos no epitáfio de um grande estadista: “O corpo de Benjamin
Franklin, impressor, como a capa de um livro velho, despojado de seu conteúdo,
de suas letras e de sua douradura, aqui jaz, pasto de vermes. A obra, porém,
não se perderá porque, como ele acreditava, reaparecerá numa edição nova e mais
elegante, revista e corrigida pelo Autor”.
Imagem semelhante é a
que descreve a morte do corpo humano com um processo idêntico ao que ocorre
quando uma borboleta deixa o casulo. Esse pode ser comparado ao Homem, mas não
é idêntico ao seu eu real, porquanto é somente morada transitória. Tão logo o
corpo físico esteja absolutamente debilitado, libertará a borboleta — a alma,
para melhor dizer. Isso não significa ter chegado ao fim da existência, mas
somente que o casulo deixou de funcionar.
Não se pode negar que
existe muito fator ou fenômeno que o ser humano não pode compreender, mas nem
por isso deixa de existir. Respeitáveis são os ensinamentos dados pela Ciência,
pela Filosofia e pela Religião, porém todos ainda limitados.
Diante disso, o que mais
importa é o amor que se pode dar no leito do moribundo. Sentar-se à beira da
cama e compartilhar por inteiro o instante da despedida.
A morte não é somente
tristeza, como muitos pensam e propagam. Ao revés, pode significar oportunidade
imensa de amor e sabedoria. Pode ser que seja apenas uma sonata, mas pode
tornar-se uma eterna sinfonia!
2 A Morte não cede à compaixão:
obedece a um processo de mudança
A morte não cede à compaixão, não se
explica, não espera pelo epitáfio (não é mais que uma inscrição no túmulo). Sua
chegada é apenas questão de tempo. Daí a conclusão de Fernando Pessoa, dizendo
que “o ser humano é somente um cadáver adiado!”
Em verdade, a morte é um processo contínuo — segundo a
observação de Sêneca: “a hora final, quando cessamos de existir, não nos traz a
morte; ela simplesmente completa o processo de morrer. Nós alcançamos a morte
naquele momento, mas já estávamos há muito tempo no caminho”.
Todo ser vivo morre. O Homem sabe
disso, mas, inexplicavelmente, vive como se não fosse morrer.
Há
muitas versões interpretativas do ato de morrer. Uma delas deduz que a
imortalidade seria tediosa, terrivelmente insuportável.
Seja como for, a morte provoca
tristeza e desolação.
Morrer
é o temor do desconhecido! O esforço das religiões para explicá-la deixa no
Homem um grande vácuo, uma grande interrogação, grande vazio.
Sendo
inevitável o ato de perecer e a decomposição dos corpos, a melhor hermenêutica
está na tese do filósofo Epicuro, que, já no século III a.C., defendia a
inexistência de relação entre o homem e a morte. Dizia não temê-la porque nunca
iria encontrá-la, pois “Enquanto sou, a morte não é; e desde que ela seja, não
sou mais”.
Consolo
infantil, evidência recusada, não há escapatória. A única certeza que o homem
pode ter é que, um dia, a qualquer hora, vai falecer. Confortadora, porém, é a
seguinte lição Eckartn Tolle (com grifo nosso):
“Quando
você anda numa floresta intocada, onde não houve qualquer interferência humana,
vê muito verde, muita planta brotando, mas também encontra árvores caídas,
troncos se deteriorando, folhas podres e, a cada passo, matéria em decomposição. Para
onde quer que olhe, vai encontrar vida e morte.
“Se
prestar mais atenção, vai descobrir que o tronco de árvore em decomposição e as
folhas apodrecendo não só dão origem a nova vida como estão cheios de vida. Há
micro-organismos em ação. As
moléculas estão se reorganizando. Portanto, não há morte em parte alguma dessa floresta. Há apenas a transformação da vida. O que pode
aprender com isso?
“Aprende
que a morte não é o contrário da vida. A vida não tem oposto. O oposto da morte é o nascimento. A vida
é eterna”.
3 Vida após a morte: argumentos e
opiniões contra e a favor
A
crença em uma vida depois da morte sempre foi o centro das discussões
teológicas. Mas será que isso faz sentido? Seria a morte algo a que se poderia
sobreviver? Há controvérsias.
Um dos argumentos filosóficos
que sustentam a ideia de imortalidade da alma é este: os ímpios não são
castigados e os virtuosos não são recompensados nesta vida. Logo, é razoável
que exista outra vida onde possam ser julgados de conformidade com os próprios
méritos e deméritos.
O entendimento mais comum de
pensar a vida pós-morte é o que afirma existir um “ser imortal” que sobrevive à
decomposição do corpo, cuja crença foi defendida por Platão — filósofo da
antiga Grécia.
Em
seu livro Fédon, escrito em forma de diálogo, ele comenta fatos que antecederam
a morte de Sócrates, condenado a beber veneno por contrariar interesse das
classes dominantes. Alguns amigos acercaram-se do mestre no interior da prisão
e constataram que ele seria executado naquele mesmo dia. No entanto, Sócrates
não apresentava qualquer constrangimento com a notícia, dizendo não estar com
medo, pois, embora seu corpo esteja prestes a perecer, sua alma sobreviverá.
Isso ficou explicitado na conversa que manteve com o amigo Cebes: “Sócrates —
Considerando que o que não pode morrer não pode ser destruído, não seria o caso
de a alma, sendo imortal, também ser necessariamente imperecível? Cebes: Com certeza.
Sócrates: Então, quando a morte ataca um homem, morre parte dele, mas a parte
imortal escapa e é preservada sã e salva? Cebes: É verdade. Sócrates: Portanto,
Cebes, acima de qualquer dúvida, a alma é imortal e imperecível, e nossas almas
realmente hão de existir em outro mundo!”.
Depois
disso, Sócrates ainda se vê obrigado a repreender os amigos, quando eles
perguntam como desejaria ser sepultado, dizendo-lhes que ele não seria
sepultado. Sua alma estaria em outro lugar, e que importância faz o que farão
com seu corpo, que será deixado para trás?
Destarte,
Sócrates defendia a coexistência de um corpo mortal e uma alma imortal, com um
morrendo e o outro sobrevivendo eternamente.
Contestando
tal concepção, as tradições judaicas entendiam inexistir vida além-morte,
embora acreditando na ressurreição dos mortos no fim dos tempos. Essa crença
constitui um dos “Treze princípios da fé” — uma espécie de síntese das doutrinas
fundamentais do Judaísmo, escrito pelo filósofo judeu Maimônides.
O
Cristianismo herdou essa doutrina, difundindo a tese de que a ressurreição dos
mortos era um dos sinais do fim do mundo. Muitos cristãos, porém, declararam-se
adeptos do platonismo. Não obstante, por volta dos séculos IV e V, na época de
Agostinho, o entendimento platônico da sobrevivência da alma tornou-se
praticamente universal, ao lado da crença tradicional na ressurreição do corpo.
A
rigor, isso veio a constituir uma doutrina mais complexa, a saber: na morte, o
corpo e a alma separam-se; o corpo desintegra-se e a alma continua a viver, de
acordo com o modelo de Platão. Mas o espírito ingressa em uma espécie de
dormência até que, no fim dos tempos, o corpo é ressuscitado e reintegrado à
alma.
Em
outro extremo, no século XVI, Martinho Lutero defendeu que a existência
da alma imortal era antibíblica e essencialmente pagã. Acreditava apenas na
ressurreição do corpo, concebendo a imortalidade da alma como monstruosa
doutrina da fé católica.
Não
se tem a pretensão, neste pequeno espaço, de esgotar o assunto nem se insurgir
contra este ou aquele entendimento. Apenas concluir, recorrendo à Metafísica,
que a abordagem mais adequada seria apelar à onipotência divina. Se Deus é
onipotente, pode fazer tudo, inclusive proceder diferentemente do quanto possa
imaginar a limitada capacidade humana.
4
Consolação ao enlutado
Poucos entendem que se morre
diariamente. Pensam que a morte é coisa do futuro, porém parte dela é coisa do
passado.
O
tempo passado pertence à morte. O que se vive não passa de um instante com
aparente duração. A morte persegue o ser vivente, a vida foge.
Por
isso, o valor da vida não está na sua duração, mas no uso que se faz dela.
A
Vida não guarda distância da Morte, uma vez que essa se encontra em todos os
lugares. O tempo que separa um homem de outro não é o mais importante.
A
morte está presente em todos (sem esquecer ninguém).
Portanto, ao perder-se um ente
querido, deve-se manter discrição e silêncio.
Os
olhos não devem ficar nem secos nem inundados. Chorar copiosamente com
lamentações e prantos tresloucados pode constituir uma forma insana de
exibicionismo, e a maior forma de hipocrisia e exibição na dor. Nessas horas, é
preciso amenizar a rigidez, exercitando a arte da tolerância, aceitando com
resignação a desventura.
A
dor também tem o seu recolhimento, que deve ser preservado. Em tudo, há uma
justa medida. Somente nos medíocres, dores e gozos são escandalosos. De nada
adianta lamentar-se de algo que está, desde as mais remotas origens, reservado
a todos, tal como Sêneca dizia:
“Aquele
que lamenta a morte de alguém lamenta ter nascido. Uma mesma lei rege a todos
nós. Quem nasceu deve um dia morrer. Os tempos podem ser diferentes, mas o fim
é o mesmo. (...) Nada é mais certo do que a morte. Apesar de tudo, todos se
queixam de um acontecimento para o qual sempre foram avisados”.
É insensatez ter medo da morte.
Herói é o homem que aprende a morrer com dignidade, serenidade, prudência e
coragem.
Ademais,
não há novidade na morte. Trata-se de uma viagem que leva aonde tudo vai.
Ao
nascer, já existe a certeza da morte. Isso já aconteceu com todos os
antepassados e os que vierem, depois irão. Uma sequência interminável e
irrevogável envolve e leva todos, sem distinção.
Toda vida é breve. Isso vale para
mendigos, escravos e miseráveis, tanto quanto para todos os grandes e
requintados poderosos que se colocam acima da multidão, pois esse tipo de
felicidade não passa de enganos, de uma máscara usada em público. Se a mesma
for retirada, causarão piedade.
Com
efeito, todos os bens dos mortais são igualmente mortais. O verdadeiro
patrimônio encontra-se nas virtudes — única coisa imortal que pertence aos
mortais. Os outros bens de que alguém se julga proprietário, não lhe pertencem,
pois nada é absolutamente eterno e invencível neste mundo.
Cabe lembrar que muitos dos que são
amados em vida, embora sejam retirados, continuam vivos na lembrança e nos
corações, de modo que se pode afirmar que esse tempo que passou perdura para
sempre.
A Morte está sempre vigilante,
contudo é comum pensar que ela existe somente em relação ao outro. Daí vem a
surpresa e o desespero, mas a vida mortal é apenas um prelúdio de uma nova
existência, como ensinam os profetas. Por isso, é recomendável, quando chegar a
hora, abandonar serenamente a pele, a carne, o sangue e os ossos.
Finalmente, nada é mais
desconfortável que a perda daqueles que se ama; no entanto, insurgir-se contra
isso é tão insensato quanto chorar pela queda das folhas das árvores. Hoje um,
amanhã outro — tal é a Lei!
POEMA DE VALDIR LOUREIRO
1
NOTÍCIA E REAÇÃO
1) Surpresa
Hoje*
eu fui surpreendido
por
um aviso imprevisto
que
causou espanto misto
assim
que foi recebido:
fiquei
pasmo e entristecido
só
de pensar na imagem!
O
Amigo disse a mensagem:
“Em
hora padecedora,
a
Professora, a Escritora
fez
sua eterna viagem!”.
* 28 de janeiro de 2017.
2) Reação
* 28 de janeiro de 2017.
2) Reação
Senti
o impacto: o entalo
com
a voz, querendo faltar.
Precisei
me controlar
para
conter esse abalo.
Foi
um efeito de estalo
que
eu não sei bem definir.
Só
água, pude engolir.
Não
sei se era fadiga,
sentindo
a perda da Amiga,
“que
acabara de partir!”.
3) Sugestão
Com
respeito e luto meu,
sugeri
ao Digno Amigo
que
escrevesse algum artigo
como
era hábito seu:
falando
em quem faleceu,
consolava
os enlutados;
aos
“olhos enlagrimados”,
sua
homenagem servia
como
oração que alivia
a
dor dos inconformados.
4) Minuto de silêncio
Depois
olhei o Infinito
com
a Natureza eterna,
que,
no seu reino, governa
quem
parte e quem fica aflito.
“Meu
olhar foi um bendito
que
eu fiz pela alma dela.
E
a luz do Sol foi a vela
acesa
na minha mão”,
no
minuto de atenção
e
silêncio para ela.
5) Compadecimento
Eu
estava viajando
no
momento do aviso.
Sem
acalmar o juízo,
continuei,
caminhando...
na
estrada, fui pensando
na
“família enlutada”:
muita
gente inconformada
que
junto “a Hilma” estivesse
e
quem mais se compadece
de
uma alma transmutada.
2
LIVROS E AMIZADE
6) Livros
Hilma
Freire, a Professora,
tem
um texto que eu guardei:
memória
que cultivei
do
seu tempo de Escritora.
De
dois livros, é autora:
dos
que foram publicados,
afora
mais uns deixados,
nas
dependências de um lar —,
que
alguém pode cultivar
como
tributos legados.
7) Amizade
Tem*
um livro que nos fez
“amigos
de coração”,
e
não só da ocasião:
sempre
os mesmos, toda vez!
Amizade
e honradez
pautavam
nosso contato.
Eu
sempre lhe serei grato
por
ela ter-me lançado
como
o “artista” a que sou dado:
“revisor
de texto”, nato.
* Ela tem: Educação política.
8) Tríade
* Ela tem: Educação política.
8) Tríade
Um
Digníssimo Sujeito,
Ela
me apresentou,
o
qual também se tornou
meu
bom “amigo do peito”.
O
trio estava perfeito:
Doutor
Edilson Santana,
Hilma
Freire, muito humana,
e
Valdir Loureiro (eu),
querendo
ser deles (seu)
revisor
que não se engana.
3
DOENÇA E ATIVIDADE
9) Enfermidade
Hilma
andava adoentada
—
embora aparentemente —,
por
ser forte, resistente,
não
se queixasse de nada.
Era
firme, entusiasmada.
E
com a sua fé ou crença,
lutava
contra a doença.
Não
se entregava ao cansaço,
não
demonstrava embaraço
nem
se apresentava tensa.
10) Atividade
10) Atividade
Os
anos foram passando.
A
atividade aumentou
e
o Trio realizou
o
que vinha planejando.
Sempre
nos comunicando,
não
faltava um bom pretexto:
fora
a revisão de texto,
de
seis temas escolhidos,
todos
eram debatidos —
era
do primeiro ao sexto.
11) Política
Hilma
foi escritora crítica.
É
senso que se desdobra
na
sua primeira obra,
a
“Educação Política”:
fala
de forma analítica
sobre
governo e poder
que
vivem para querer
benesse
e prerrogativa —
“sem
ter iniciativa
que
o lixeiro possa ver”.
4 ATRIBUTOS E RELIGIÃO
4 ATRIBUTOS E RELIGIÃO
12) Religião
A
Professora Hilma era
uma
cristã fervorosa —
tão
fiel religiosa
que
outra, seu pai não fizera?
Na
certa, sua mãe quisera!
Mas
quem sabe? Sua tendência
de
orar com veemência
não
dependeu só dos pais:
foi
de dons celestiais
e
divinal Providência?
13) Ressurreição
13) Ressurreição
Sua
fé inabalável
talvez
a tenha levado
para
um “jardim encantado”
em
que tudo seja amável!
Seu
amor interminável
a
Deus, como Sua serva,
todo
Santo vê, preserva.
“Se
é no Céu como no pó”,
seu
corpo aqui não está só,
enquanto
Lá se conserva.
14) Universo unificado
14) Universo unificado
Vou
ficando aqui, na terra,
sem
a Professora Hilma —
com
“a Mão Natural* que filma
o
cortejo que se encerra”.
Depois
que o corpo se enterra,
espera
a “calma final”
de
um mundo espiritual
onde
todos se acharão
em
busca da salvação
e
do Abraço Universal.
* Mão da Natureza.
15) Transdimensão
* Mão da Natureza.
15) Transdimensão
Hilma
era espiritualista.
Pelo
que eu pude entender,
“ela
não ia morrer;
mudava
sua forma vista".
O “Céu” é uma conquista;
é
dimensão ou estado
para
o “bem-aventurado”.
E
sua espiritualidade
com
amor à vida e humildade
era
de nível elevado.
16) Imortalidade
16) Imortalidade
Eu
não vou dizer “Adeus”
a
“quem foi, mas não sumiu:
enquanto
desceu, subiu
e
está com os entes seus”.
Hilma
acreditava em Deus
como
na imortalidade.
Deixou
eterna saudade;
por
isso, não fica ausente;
ela
está viva ou presente
na
nossa mentalidade.
5
CENÁRIO FINAL
17) Igreja
O
momento é funerário.
Muito
longe do jazigo,
mas,
com o título de “amigo”,
sou
amigo e solidário.
“Estou
vendo” o campanário
onde
dobram corda e sinos.
“Ouço”
a cantiga dos hinos
na
voz do público presente.
“Imagino”
quem frequente
esses
rituais divinos.
18) Remédio
18) Remédio
Mas,
como estão os parentes
de
tão prezada Senhora?
O
que estão tomando agora
para
as dores inclementes?
“Das
mentes, façam correntes
que
ligam seus corações!”.
São
essas “medicações”
que
se vão associar
ao
remédio que curar
tais
dores ou aflições.
19) Arquivo vivo
Seu
acervo literário
(provavelmente
incompleto)
estará
sob algum teto
de
um ser humano gregário.
Seja
trancado em armário
ou
em outro local seguro.
Pode
ser que, no futuro,
alguém
tenha pretensão
de
sua publicação
“para
tirá-lo do escuro”.
6
DIA E LOCAL
20) Dia 28 de Janeiro
Vinte
e oito de janeiro.
Foi
essa data marcada
por
sua vida mudada
com
o suspiro derradeiro.
Abalou
o Bairro inteiro
o
triste acontecimento.
Ocorreu
o desligamento
dessa
ilustre cearense,
—
da terra missão-velhense —
lugar
do seu nascimento.
21) Missão Velha
21) Missão Velha
“Missão
Velha entristeceu-se”
com
a notícia desse caso;
antecipou
seu Ocaso
e
mais cedo, escureceu-se.
A
Cidade recolheu-se
ao
luto da despedida:
foi
“sua filha querida
residir
em outro abrigo,
levando
junto consigo
a
certeza de Outra Vida”!.
7 LIVRO LÚPUS SEM MARTÍRIO
7 LIVRO LÚPUS SEM MARTÍRIO
22) Mensagem
Dessa
obra, eu sei falar
com
muita leitura minha,
“como
quem sabe a andorinha,
onde
mora ou quer morar”*.
Foi
de me fazer chorar
o
seu “martírio sem dor”;
mas
percebi o valor:
seu
segredo principal
é
a vida espiritual,
incluindo
a fé e o amor.
* Conhecer o segredo da mensagem.
23) Exemplo de superação
* Conhecer o segredo da mensagem.
23) Exemplo de superação
Não
lhe faltava um alento.
E
a ilustre Professora,
além
de ser sonhadora,
superava
o sofrimento.
O
seu desenvolvimento,
sua
história detalhada,
foi
nesse livro contada.
E
com determinação,
a
vida em evolução,
nunca
se deu por cansada.
24) Epígrafe da obra
24) Epígrafe da obra
Doente
de Lúpus precisa seguir/
o exemplo de quem se renova na Fé:/
pergunta ao seu médico “o remédio, qual é";/
acredita em Deus, para não se afligir./
Ao lado de amigos, irá conseguir/
vencer preconceito e suportar a dor./
Em vez de ser mais um “pobre sofredor”,/
faz, do seu martírio, motivo de ser/
mais forte que a dor — para sempre viver/
“feliz na doença” — com luz e amor!
8 ALUSÃO AO POETA BIU PEREIRA
o exemplo de quem se renova na Fé:/
pergunta ao seu médico “o remédio, qual é";/
acredita em Deus, para não se afligir./
Ao lado de amigos, irá conseguir/
vencer preconceito e suportar a dor./
Em vez de ser mais um “pobre sofredor”,/
faz, do seu martírio, motivo de ser/
mais forte que a dor — para sempre viver/
“feliz na doença” — com luz e amor!
8 ALUSÃO AO POETA BIU PEREIRA
25) Promoventes do Poeta
A
Poesia tem um cheiro.
E
para que o povo cheire,
a
Professora Hilma Freire
promoveu
o Violeiro
da
“Baixa do Tinguizeiro”
com
a sua lavra decana.
E
da área suburbana
para
o campo literário,
foi
com o amigo solidário,
Doutor
Edilson Santana.
26) Sua Antologia
“Antologia
Poética
do
poeta Biu Pereira”
é
um livro de cabeceira,
para
quem gosta da estética:
da
beleza magnética
imantada
na poesia.
Biu
Pereira — eu queria
tê-lo
visto pessoalmente;
mas
o vejo no expoente
dessa
rica Antologia.
27) Organizadores da Antologia
Sem
a vaidade ufana,
foi
um livro organizado
e,
com honras, publicado
por
Hilma e por Santana.
Tem
conteúdo que abana
o
fogo da alegria
presente
em sua poesia —
ainda
que ele fumasse
pra
que o cigarro apagasse
a
tristeza que sentia.
28) Solidariedade
Custa
muito suportar
Lúpus,
tristeza e agonia,
mas
estou em sintonia
com
essas “notas de pesar”.
Quando
um parente chorar,
ouço
um “canto de tristeza” —
contraste
da Natureza
que
a família compartilha,
como
a de Hilma, que fervilha*
entre
o Luto e Vela Acesa.
* "fervilha" no sentido de estar inquieta.
Valdir Loureiro
* "fervilha" no sentido de estar inquieta.
Valdir Loureiro
Revisor
de texto
e
Colecionador de livros.